terça-feira, 4 de janeiro de 2022
A verdadeira história dos três porquinhos - Jon Scieszka
Toda a gente conhece a história dos Três Porquinhos. Ou pelo menos, acha que conhece. Mas, eu vou contar-vos um segredo. Ninguém conhece a história verdadeira, porque nunca ninguém ouviu a verdadeira versão da história, a verdadeira história dos três porquinhos.
Eu sou o lobo Alexandre T. Lobo. Podem chamar-me Alex. Não sei como começou esta história do Lobo Mau, mas está completamente errada. Talvez seja por causa da nossa alimentação. Olhem, eu não tenho culpa se os lobos comem bichinhos engraçadinhos como coelhos e porquinhos. É a nossa natureza. Se os hambúrguers fossem fofinhos, toda a gente ia achar que vocês são Maus.
Mas como eu estava a dizer, toda essa conversa sobre o Lobo Mau está errada. A verdadeira história é sobre um espirro e uma caneca de açúcar.
No tempo do Era Uma Vez, estava a fazer um bolo de aniversário para a minha querida avozinha. Eu estava com uma constipação terrível, a espirrar muito. E fiquei sem açúcar.
Então resolvi pedir uma caneca de açúcar emprestada ao meu vizinho. O que aconteceu foi que esse vizinho era um porco. Que, ainda por cima, não era lá muito inteligente. Sabem porquê? Ele tinha construído a casa de palha. Dá para acreditar? Quero dizer, quem tem um pingo de inteligência não constrói uma casa de palha.
Claro que assim que bati à porta, ela caiu. Mas como eu sou bem educado e não gosto de entrar na casa dos outros, de qualquer maneira, chamei por ele: “Porquinho, está em casa?” Ninguém respondeu.
Eu já estava quase a voltar para casa sem o açúcar para o bolo de aniversário da minha querida e amada avozinha. Foi precisamente nesse momento que comecei a sentir uma comichão no nariz! Senti o espirro a vir. Então inspirei. E soprei.
E soltei um grande espirro.
Sabem o que aconteceu? A maldita casa de palha desmoronou completamente. E mesmo no meio do monte de palha estava... o Primeiro Porquinho – mortinho da silva. Afinal ele estava mesmo em casa.
Ora, seria um desperdício deixar um presunto em tão excelente estado no meio daquela palha toda. E comi-o. Imagine o porquinho como se ele fosse um grande hambúrguer mesmo aí à mão.
Eu já estava a sentir-me um pouco melhor. Mas ainda não tinha a minha caneca de açúcar. Então fui até a casa do vizinho seguinte. Este era um pouco mais esperto, mas não muito. Vejam lá vocês: tinha construído a casa com lenha. Toquei à campainha. Ninguém respondeu. Chamei: “Senhor Porco, senhor Porco, está em casa?”
Ele respondeu, lá de dentro: “Vai-te embora Lobo. Não podes entrar. Estou a fazer a barba das minhas bochechas rechonchudas”.
Tinha eu acabado de pegar na maçaneta quando senti outro espirro a chegar. Inspirei, inspirei. E soprei. E ainda tentei tapar a boca, mas soltei um grande espirro. Vocês não vão acreditar, mas a casa do meu querido vizinho desmoronou da mesma forma que a do irmão dele.
Quando a poeira baixou, lá estava o Segundo Porquinho – também morto. Palavra de hora.
De certeza que a vossa mãe vos ensinou que a comida se estraga se ficar a apanhar ar.
Então fiz a única coisa que tinha de ser feita. Jantei de novo. Era o mesmo que repetir um prato. Já estava a ficar muito empanturrado. Mas estava um pouco melhor da constipação.
O problema é que ainda não tinha conseguido arranjar a caneca de açúcar para o bolo de aniversário da minha querida e amada avo. Então, fui até a casa do vizinho seguinte. Era o irmão do Primeiro e do Segundo Porquinho. E devia ser o crânio da família. A casa dele era de tijolos. Bati à porta da na casa de tijolos. Ninguém respondeu. E chamei: “Senhor Porco, o senhor está?” E sabe o que aquele leitãozinho atrevido me respondeu? “Sai daqui para fora, Lobo. Não me chateies.”
E eu é que sou mal-educado! Provavelmente tinha um saco cheio de açúcar lá em casa. E não queria dar-me nem uma chavenazinha para o bolo de aniversário da minha avozinha. Que porco!
Estava quase a ir-me embora, para fazer um lindo cartão em vez de um bolo, quando senti um espirro a chegar. E inspirei, inspirei, inspirei. E soprei. E espirrei de novo.
Então, o Terceiro Porco gritou: “E estou-me nas tintas para a sua velha avozinha.”
Sabem, eu, geralmente, sou muito calmo. Mas quando alguém fala deste jeito sobre a minha avozinha, perco a cabeça.
Quando a polícia chegou, é verdade que eu estava a tentar rebentar a porta daquele Porco. Estava a soprar, e a soprar e a espirrar e a fazer uma barulheira enorme.
O resto, como costumam dizer, são histórias.
Tive azar: os repórteres descobriram que eu tinha jantado os outros dois porcos. E acharam que a minha história de estar doente e a pedir açúcar emprestado não era muito convincente.
Então, para venderem mais jornais, exageraram a história com aquelas frase do"soprou, soprou e deitou a casa abaixo".
E a partir dai começaram a achar que eu era um Lobo Mau.
Mas esta é a verdadeira história. Eu é que fui a vítima.
Mas talvez vocês possam emprestar-me uma caneca de açúcar”.
Autor desconhecido
TAL COMO FOI CONTADA A JON SCIESZKA
ILUSTRADA POR LANE SMITH
adaptada
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