Uma mulher foi encontrada viva numa repartição de Finanças do 5º bairro fiscal, em Lisboa. A mulher, de apelido Mendes, não apresentava quaisquer sinais de violência nos membros superiores, nem nos membros inferiores. A cabeça encontrava-se envolvida por uma massa espessa de cabelo castanho, e por debaixo das sobrancelhas, também castanhas, tinha dois olhos da mesma cor. Tudo indica, portanto, que os olhos sejam mesmo seus.
A menos, claro, que o cabelo e as pestanas sejam postiços. A polícia, no entanto, não adiantou quaisquer pistas sobre o assunto.O corpo deslocava-se com aparente naturalidade e apresentava-se convenientemente vestido, com uma saia, uma blusa bege e sapatos de salto raso. A mulher aparentava ter entre os vinte e os quarenta anos, e parecia ter tudo em ordem, inclusive os seus papéis.
Nada levaria os funcionários a suspeitar que ela estava viva, se não fosse um ligeiro descuido por parte dela: não se queixava do cansaço, nem de dores de cabeça, nem do marido, nem dos joanetes, nem das costas, nem dos filhos, nem da vida, nem do namorado, nem do calor, nem da mãe, nem dotempo, nem dos transportes, nem da falta de tempo. Apesar de ter estado uma hora à espera, parecia mesmo bem disposta.
Até ao fecho deste bloco noticiário, ninguém reclamou o corpo.
RUI ZINK
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