Talvez isto tenha a ver com a minha vida nas montanhas nos trópicos, onde o clima perpétuo, sempre igual a si mesmo, parece negar a passagem do tempo. Aqui onde vivo, muito perto do equador, a 2300 metros acima do nível do mar, numa cabana de madeira nas montanhas, o campo e as árvores nunca deixam de ser verdes e a temperatura é sempre idêntica ao longo de todo o ano. Aqui o clima não se sente. Às vezes chove, mas não há dia em que não brilhe o sol, pelo menos um pouco, e eu olho para as minhas vacas (dez vacas) como se estivessem presas a um eterno presente. A única coisa que fazem todo o dia e todos os dias é comer enormes bocados de erva verde, que cresce todo o ano, silenciosa, e transformá-la em leite.
Nas montanhas dos Andes, de onde escrevo, o verde é de todas as cores e para chegar ao mar necessito pelo menos de uma hora de avião ou 12 de carro. O mar está muito longe. O mundo está muito longe. Às vezes vêm amigos ou uma amiga, os meus filhos, e falamos e caminhamos. Não vejo televisão nem ouço rádio: o mundo chega-me pela Internet. Há muito silêncio, há pássaros, há água cristalina que cai das encostas. Este é o meu estilo de vida e de escrita. Sinto-me fora da terra e fora do tempo. O único indício de que o tempo passa é que às vezes morre uma vaca e às vezes nasce um bezerro. Também porque, na minha cabeça, um pêlo negro é substituído por um pêlo branco.
Sinto que pouco a pouco me desvaneço e parece que um dia vou voltar a ser transparente: um vazio mental...
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