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terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Um homem apaixonado - Karl Ove Knausgard

Se, e de um modo geral, todos os seis volumes deste complexo projeto romanesco são uma tentativa de resposta à pergunta "Quem eras tu quando não te lembravas que existias?", em "Um homem apaixonado" o que sobressai parece ser a procura da razão do acto de escrever e a definição de limites para a luta que é travada entre o tempo necessário para a escrita e o da dedicação aos filhos, que muitas vezes parecem ser inconciliáveis. Knausgard sente-se aprisionado na vida familiar - na sua recente função de pai, que o obriga a mudar fraldas e a passear os bebés sem lhe deixar tempo para escrita - e por vezes pensa em fugir; mas por outro lado sabe bem que aquela clausura lhe é essencial para poder chegar ao fim sem recear o passado. A vida familiar surge como uma necessidade mas, ao mesmo tempo, como impedimento ao exercício solitário da literatura. Por sentir, como pai, que a vida que vive não é a sua, a escrita passa por essa "luta" de tornar "sua" a vida que vive. "O que nada tinha  a ver com a minha falta de vontade de limpar o chão ou de mudar fraldas, mas se passava a um nível mais fundamental: a vida à minha volta não tinha sentido, eu ansiava a todo o momento por me ver livre dela e, com efeito, mantinha-me sempre como que à distância. Portanto, a vida que eu vivia não era a minha própria vida. Tentava torná-la minha, essa era a minha luta".

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