Sinto que o casamento me fecha e apetece-me evadir. A perspectiva de felicidade tranquila que se me depara, entristece-me. Dou por mim a lamentar o tempo, não muito distante, em que podia enfrentar as angústias da espera. Sonho com uma vida de primeiros amores duradouros. Quando vejo apaixonados, penso menos em mim, no que era, do que neles mesmos e naquilo em que se tornarão. Por isso gosto tanto da grande cidade. As pessoas passam e desaparecem. Não as vemos envelhecer. O que para mim confere tanto valor ao cenário das ruas parisienses, é a presença constante e fugaz das mulheres que se encontram, e que tenho quase a certeza nunca mais verei. Basta que estejam ali, indiferentes e conscientes do seu encanto, felizes por verem a sua eficácia junto de mim, como eu junto delas, por um acordo tácito, sem necessidade de um sorriso ou de um olhar, mesmo que mal esboçado. Sinto profundamente a sua sedução sem que seja seduzido. Isso não me afasta de Helène, bem pelo contrário. Penso que aquelas belezas que passa são o prolongamento necessário da beleza da minha mulher. Elas enriquecem-na com a sua própria beleza, recebendo em troca também um pouco da beleza dela. Ao abraçar Helène, abraço todas as mulheres. Por outro lado, sinto que a minha vida passa e que outras vidas se desenrolam paralelamente à minha. Sinto-me como que frustrado por ser estranho às suas vidas, por não ter detido estas mulheres, apenas por um instante, na sua marcha precipitada para não sei que trabalho ou que prazer. E sonho. Sonho que as possuo a todas efectivamente.
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