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terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Clive continuou a caminhar

Clive continuou a caminhar, pois o desalento e a apreensão eram as próprias condições - a doença - das quais procurava alívio e a prova de que a sua rotina diária - passar horas curvado sobre o piano todos os dias - o tinha reduzido a um estado de desânimo. Ficaria de novo animado e o medo desapareceria. Ali não havia nenhuma ameaça, só uma sublime indiferença dos elementos. Não havia perigos, claro, a não ser os habituais, e bastante moderados; ferimentos provocados por uma queda, perder-se, uma mudança de tempo violenta, a noite. Enfrentá-los devolver-lhe-ia uma sensação de controlo. Dentro em pouco, as características humanas desapareceriam das rochas, a paisagem assumiria a sua beleza e absorvê-lo-ia; a idade inimaginável das montanhas e a malha fina das coisas vivas que as envolvia recordar-lhe-ia que fazia parte dessa ordem e que era insignificante dentro dela, e assim ficaria liberto.

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